Às vésperas de desembarcar no Brasil para fazer dois shows – sábado, dia 19/08, em São Paulo, e no domingo em BH, ambos junto com o Mr. Big – Geoff Tate me atendeu para essa entrevista onde falamos um pouco sobre sua expectativa para esses shows onde pela primeira vez ele se apresentará com uma banda formada exclusivamente por músicos brasileiros – entre eles o baixista do Angra, Felipe Andreoli – e executará o clássico “Operation: Mindcrime” na íntegra. Também houve tempo para falar um pouco sobre o momento atual do mercado da música e sobre o recente encontro que ele teve com os integrantes de sua ex-banda, o Queensrÿche. Entre respostas evasivas e irônicas, Tate discursa a favor do presente, embora demonstre que seus esforços estão todos voltados para a manutenção de um legado musical marcado pelo talento e pioneirismo.
Eliton – Fala Geoff, obrigado por conceder essa entrevista. Estamos todos muito empolgados com esses novos shows no Brasil, ainda mais porque será a primeira vez que você tocará com músicos brasileiros. Qual sua expectativa desses dois shows?
Geoff Tate – Também estou muito empolgado. Irei, pela primeira vez na minha carreira, tocar com uma banda formada inteiramente por brasileiros. Estou muito curioso para saber qual será a interpretação deles para a minha música. Os músicos que tocarão comigo são: Felipe Andreoli – Baixo; Edu Cominato – Bateria; Leo Mancini – Guitarra; Dalton Santos – Guitarra e Bruno Sa – Teclados.
Eliton – Esses dois shows foram inicialmente anunciados como sendo no formato acústico onde você também contaria histórias de sua carreira. Seria um pacote bem interessante, mas devemos ser francos: vê-lo tocando o “Operation: Mindcrime” na íntegra é sempre mais especial, não?
Geoff – Estive em turnê por seis meses pela Europa e Estados Unidos apresentando esse show “The Whole Story Acoustic Show”. Foi um grande sucesso. Foram performances como as outras, uma experiencia realmente especial. Os meus planos eram de fato trazer esse show para a América do Sul, mas tive problemas com visto e tivemos que cancelar a turnê. Por sorte, Bruno Gomes, meu amigo e produtor, veio com a ideia de abrir para o Mr. Big. Ele falou com a banda e eles gostaram da ideia, e aqui estamos nós. Como eu só teria 60 minutos de show, todos nós concluímos que tocar o primeiro “Operation: Mindcrime” na íntegra seria incrível.
Eliton – Com certeza! Mas você também tem um novo álbum de estúdio, “Ressurection”, lançado em setembro do ano passado. Seguindo a ordem natural das coisas, era para você estar vindo promover as músicas desse disco. Por que isso não aconteceu?
Geoff – Bem, o fato é que a “ordem natural das coisas” foram mudadas radicalmente. Estamos no século 21 e todas as regras da indústria fonográfica morreram.
Eliton – Eu entendo, claro! Então como é ter que lidar com um passado que é mais expressivo, em termos de popularidade? Você se sente preso no tempo, criativamente?
Geoff – Eu me sinto cheio de energia e empolgado. É um ótimo momento para estar vivo. Muita coisa acontecendo.
Eliton – Como você mesmo disse, o mercado da música mudou radicalmente desde quando você começou nos anos 80. Não há mais tanto dinheiro investido nesse tipo de negócio. As somas milionárias de vendas de LPs e CDs ficaram no passado. Não temos mais tanto novos talentos sendo lançados pelo mercado como haviam no passado. As bandas mais relevantes – do ponto de vista do mercado – continuam sendo as mesmas. Sejam os mesmos músicos em carreira-solo ou com line-ups reformulados. O futuro da música está no passado?
Geoff – Eu diria que o futuro da música é agora! Há pelo menos 20 vezes mais bandas e artistas fazendo música hoje do que antes. Há muitas escolhas!
Eliton – De fato. O lado bom de não ter a interferência do mercado na música é que ela não é mais transformada em mero produto. Não há mais uma indústria produzindo música em série para atender uma determinada demanda. Isso pressupõe mais liberdade artística, uma vez que não há interferência externa. Você acha que a música feita hoje pode ser mais autêntica, livre das imposições de mercado?
Geoff – Os músicos sempre foram livres para seguir seus próprios anseios artísticos. Muitos seguiram o mercado. Somente os mais corajosos seguiram seu próprio caminho. Todo mundo é responsável pelas suas escolhas.
Eliton – Recentemente, em Barcelona, você viu o Queensrÿche tocando sem você pela primeira vez. Como você se sentiu?
Geoff – Eu estava lá em Barcelona para um show com o Avantasia. O Avantasia era o headliner do festival e entraria no palco só depois das 23:30, então cheguei mais cedo no festival com o Ronnie Atkins porque eu queria ver a banda dele tocar, o Pretty Maids. Quando estava indo para o palco, alguém me disse que minha antiga banda estava lá se preparando para tocar, e quando olho a primeira pessoa que vi foi o Eddie Jackson. Como eu não falava ou o via por muitos anos, eu fui até ele pra cumprimentá-lo. Acho que ele não me reconheceu de cara, porque quando eu disse “olá” ele ficou só olhando para mim por alguns segundos. Ele estava falando no telefone no momento e quando ele finalmente viu que era eu, ele simplesmente largou o telefone. Bem, pra encurtar a história, eu conversei um pouco com o Eddie, Michael, Parker e com o Todd. O Scott não estava nessa turnê com eles, então conheci o novo baterista deles, o Casey Grillo, e falei com ele um pouco também.
Geoff Tate com o Queensrÿche em 1988, época do lançamento de “Operation: Mindcrime”
Eliton – Que massa! Aliás, o Todd La Torre tem um timbre de voz bem parecido com o seu, de forma que podemos dizer que ele é bastante influenciado por você. Vendo-o cantar você diria que ele fez bem a lição de casa?
Geoff – Pois é, o Todd é um vocalista bom pra caramba! Ele soa exatamente como eu.
Eliton – Esse encontro com os caras poderia ser um primeiro passo para uma reunião da formação clássica do Queensrÿche?
Geoff – Já foi muito bom vê-los e falar com eles.
Eliton – Cara, obrigado pela entrevista. Tenha um ótimo voo e nos vemos aqui no Brasil.
Geoff – Eu que agradeço pela entrevista. Gostei muito. Mal posso esperar para tocar para meus fãs no Brasil.
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