Por Eliton Tomasi
Identidades são como caminhos para um sentido da vida. Parece haver inevitabilidade em nos identificar com coisas e hábitos para que essas mesmas coisas e hábitos nos tragam algum sentido para cada inspirar e expirar. Penso ser quase irresistível o desejo de nos identificar dentro de certas classificações: roqueiro, headbanger, punk, indie, músico, advogado, gay, trans, não-binário, religioso, ateu, comunista, neoliberal, feminista, terraplanista, mãe, pai, deus, diabo.
Talvez as identidades sejam mesmo essenciais. Inerentes a própria existência. Mesmo que se decida abrir mão de qualquer definição identitária, ainda assim haverá uma profissão, uma condição familiar, um nome que definirá uma identidade. Surgimos ao mundo dentro de um corpo, de uma forma, portanto dentro de uma condição física e biológica inerentemente identitária. Gosto de pensar que a identidade é a própria existência individual e essas coisas e hábitos às quais nos identificamos, são como a própria celebração do existir.
O grande dilema, a meu ver, é quando passamos a nos identificar tanto com essas coisas e hábitos de forma que elas se tornam maiores e mais importantes do que nós mesmos. Parece que passamos a olhar mais para fora e menos para dentro. É como se fosse tão importante ser um fã de Black Metal que, mesmo que eu adore Scorpions, e que músicas do Scorpions tenham marcado vários momentos importantes da minha vida, eu não possa mais ouvir Scorpions. “Vai que alguém me pega ouvindo Scorpions escondido! Eu sou um Black Metal, não posso ouvir Scorpions!”
A concentração no exterior nos faz negligenciar o interior. Um lugar onde, possivelmente, talvez poderíamos encontrar muito mais sobre nossa identidade, muito mais sobre o sentido da nossa vida, do que em qualquer outro lugar fora dali.
É preciso lembrar também que as identidades nos agrupam. E me parece que passamos a nos julgar e julgar o outro a partir de padrões de comportamento dentro desses grupos de identidades. É quando, penso eu, que a identidade escolhida passa a nos cobrar um preço caro: a nossa liberdade! De ser quem realmente somos. Incongruência! Não podemos esquecer que por trás da identidade de um grupo há identidades individuais. E por trás de identidades individuais há identidades tão profundas da qual nem nós mesmos conhecemos.
Não sei se concordam, mas eu também penso que as identidades chegam a estabelecer relações de propriedade. Meu filho, minha esposa, meu amigo, minha banda, meu crush… É como, ao se estabelecer uma identidade relacional com o outro, eu também estabelecesse uma condição de propriedade humana. Em 2019 esse tipo de relação identitária ainda é considerada normal, mas eu ouso pensar que num futuro próximo ainda haverá de ser considerado crime.
Identidades podem ser tão diversas quanto o universo em expansão, mas requerem, sobretudo, responsabilidade. Consigo e com o outro. Aliás, a palavra identidade vem do latim identitas, o mesmo que idem, ‘o mesmo’.
Identidade, em toda sua pluralidade, parece querer nos dizer duas uma coisa só: somos todos iguais. E diferentes.